sábado, 7 de novembro de 2015

Crianças sem tempo para o poderem ser

Olá!
A falta de tempo que as crianças de hoje em dia têm para brincar e serem elas mesmas é um tema que me preocupa imenso.

No meu tempo, não havia computadores, wiis,  playstations, telemóveis nem tantos canais de televisão e as crianças eram felizes.

Ao fim da tarde lanchávamos,  fazíamos os trabalhos de casa e íamos brincar. Não tínhamos tantos brinquedos,  mas tínhamos um bem muito mais precioso: o tempo.

Os meninos tinham, sensivelmente, uma actividade por semana (ballet ou futebol).

Com 9 anos eu li todos os livros infantis da Sophia de Mello Breyner Andresen. A minha filha só lê o que é obrigatório. Ler não é um hobby para ela.

Hoje, as crianças passam muito tempo na escola e têm diversas actividades como ballet, futebol, natação, basquetebol, hóquei, música,  etc.

A triste realidade é que os pais não têm tempo para as crianças porque trabalham e, então,  preenchem o pouco tempo livre dos filhos com as atrás referidas actividades. Mas será que isto é benéfico para a criança?

O tempo passado com os filhos tem sido negligenciado ou considerado pouco importante pelos pais, que põem o trabalho em primeiro lugar, podendo assim dar mais coisas aos filhos.  Isto é uma grande ilusão!

A distorção destes valores tem "criado" crianças infelizes e sem preparação nenhuma para enfrentarem uma realidade que é muito mais exigente do que pode parecer.

As crianças que passam muito tempo sem a mãe acabam por desenvolver um comportamento inseguro,  já que a base da segurança vem da interiorização da figura materna. Esta segurança advém da convivência profunda entre mãe e filho/a.

Os pais que chegam tarde a casa e que passam apenas uma a duas horas com os filhos têm mais dificuldade em duscipliná-los, porque não querem correr o risco de serem mal vistos pelos filhos ou parecerem antipáticos.

Sem a necessária disciplina, os seus filhos tornam-se ditadores, manipuladores e autoritários. Como consequência, as crianças têm pouca resistência à frustração, pois não aprendem a lidar com situações diferentes daquelas a que estão habituadas.
Fonte: artigos de psicologia.wordpress.com, adaptado

"Uma criança que está ansiosa pela atenção dos pais, não está atenta na escola, por exemplo."

Não há mamifero que não brinque e é nesse contexto que se desenvolve,  diz Neufeld. E brincar não é estar à frente de uma consola ou de um computador;  é "movimentar - se livremente num espaço limitado".
Fonte: aprender, adaptado

"As crianças de hoje não vivem a infância,  não têm tempo para brincar, correr, andar de bicicleta...de serem criativos, activos, de partilharem e aprenderem com os outros...
Fonte: Petição Pública feita por uma professora do 1° Ciclo

Aos consultórios médicos chegam cada vez mais "pequenos ditadores" que os adultos já não conseguem controlar. São filhos de pais que têm medo de serem tiranos. Mas as crianças sem limites não são livres, defendem especialistas. (...)
Em educação tem de existir tempo. "Para haver qualidade, tem que haver quantidade e disponibilidade", considera Pedro Strecht. "Os pais passam muitas horas a trabalhar, muitas crianças chegam a estar 10,  11 horas em jardins de infância e na escola. O reencontro no final do dia acontece numa situação de grande vulnerabilidade emocional com crianças cansadas, com birras, com pouco tempo para cumprir as rotinas e com país extremamente cansados do trabalho, portanto num ponto de desencontro, de choque e de conflito. Pela falta de tempo e pela culpabilidade dos pais em relação a isso,  a permissividade aumentou e aumentou aquilo a que vários autores chamam os objectos compensatórios,
no que respeita tanto a objectos como à própria relação". A delimitação de regras fica para trás e o que se observa muito hoje - diz Pedro Strecht - é que "temos cada vez mais miúdos que num registo familiar não têm estas balizas e que depois transportam para outros registos, a escola,  a sociedade toda a sua inquietação".
Fonte: paroquiacarrego.org
Pedro Strecht é pedopsiquiatra.

"(...) A consola de jogos,  o computador e a televisão transformaram - se assim na "baby-sitter" dos tempos modernos, a garantia de que os mais novos estarão ocupados por umas horas: com trabalhos de casa feitos à pressa e uma refeição rápida, depressa se chega à hora de deitar, amanhã correrá melhor! Mas não corre: em todo o lado vemos crianças inquietas com incapacidade de pensar, irritáveis por sono insuficiente,  indisciplinados na escola por ausência de limites em casa, com dificuldades na leitura e na escrita. (...)
Que saudades das crianças que brincavam na rua, que jogavam à bola na praceta ao pé de casa ou que fugiam para se divertir em casa dos vizinhos! Hoje saiem da escola a correr, trazidas por país apressados que as depositam no judo, na música, na natação ou no explicador,  para mais tarde serem recolhidas à pressa, só a tempo de uma refeição apressada antes de tentarem dormir...
O que fazer? Em primeiro lugar, lutar para que tudo isto se altere. Passar a mensagem de que o jogo é a melhor maneira de as crianças aprenderem tudo: se for fornecido um contexto que permita a uma criança o relacionamento tranquilo com um adulto,  ela será a primeira a aprender a importância da sua relação com os mais velhos e, movida pela sua curiosidade natural (existente em todas), esperará a brincadeira mais ou menos divertida,  mas sobretudo terá a certeza que a sua fantasia crescerá. Tudo isto poderá ser feito sem brinquedos,  com as mãos de pais e filhos e o corpo de todos, sem apitos electrónicos ou ecrãs tecnológicos individuais,  a dificultarem a simples troca de olhar em família. (...)
Mais do que livros ou revistas, que embora cruciais podem dar olhares perturbados da realidade (sobretudo se não os lermos em conjunto com os mais novos); mais do que recomendações palavrosas de pais para filhos, tantas vezes não ouvidas ou depressa esquecidas, muito mais que o último jogo de computador, em breve substituído pelo que acaba de sair, ou consumido a correr para alcançar o objectivo de "vencer mais um obstáculo", a resposta está no olhar da criança que nos pede: "Podes brincar comigo?".
Fonte: didacticasemminiatura.blogspot
"Brincar" por Daniel Sampaio
Daniel Sampaio é psiquiatra e escritor.

Se vos fiz pensar fico feliz! Era o meu objectivo.

Obrigada por lerem! Fiquem bem!

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